Acordo com meu celular disparando os primeiros acordes de New Divide. São 05:29 e eu não deixo que a música ultrapasse dois segundos de duração. (Talvez por isso eu ainda goste de escutar ela inteira). Normalmente aperto o botão do celular que dá mais cinco minutos de vantagem para o meu sono. São como cinco minutos de prorrogação. O jogo vai até 50. Em certos dias ele vence, mas na grande maioria das vezes, muito relutante, eu desperto. Não me lembro mais de meus sonhos. Minhas pouco mais (ou pouco menos) de cinco horas dormindo não deixam que meu cérebro guarde esse tipo de informação preciosa. Lembro-me em algumas vezes da(s) pessoa(s) com quem sonhei, o que não ajuda muito meu coração.
Viro de barriga para baixo e a essa altura já não tenho mais cobertores à minha volta. Acho que o frio é mais eficiente que meu despertador Nokia. Fico de joelhos, penso por dois ou três minutos em algum aspecto da minha vida, e finalmente me sento à beira da cama. Minha mão esquerda, como quem não tem outra escolha, aperta o interruptor, acendendo uma forte luz branca. Meus olhos ficam indignados: "Ei! Nós deveríamos permanecer fechados por pelo menos oito horas!". Desculpem-me.
Não tenho tempo pra escovar os dentes. Não tenho o hábito de lavar o rosto. Simplesmente deixo minha escova, minha pasta, meu desodorante e meu perfume na mochila. Vou até a cozinha, pego o leite, pego o copo e pego o Toddy (ou Nescau, mas eu prefiro Toddy), nessa ordem. Sou o primeiro a acordar em casa, então não tem café na mesa. Me viro com o achocolatado e, quando tem, como um pedaço de bolo.
5:46. Escuto a van parar em frente à minha casa. Ando até meu quarto, pego minha mochila, pego meu iPod shuffle, prendo-o em minha calça jeans e saio de casa. Vejo o dia (ou a noite) lá fora. Gosto especialmente quando o céu está sem nuvens, mas também gosto quando ainda está noite ou quando está nublado. Não gostar da natureza me parece um tanto errado. Há outras coisas para se não gostar.
Na van, só três pessoas, contando com o motorista. Prefiro sentar à esquerda, nas últimas duas fileiras (preferencialmente a última). Ajeito minha mochila em meu colo e tomo o cuidado para que meus chaveiros de Salvador e da Coca-Cola não fiquem batendo. Coloco os fones do meu iPod em meus ouvidos (primeiro o direito, depois o esquerdo) e passo o resto da viagem ouvindo Linkin Park, Blink 182, Sum 41, CPM 22, Los Hermanos e Legião Urbana, não necessariamente nessa ordem. Me adaptei a dormir na van, então eu durmo, mas não é um sono bom. É só a necessidade de um sono.
Também me adaptei a acordar no momento certo, quando a van está a 3 minutos da universidade. Chego sempre entre 07:00 a 07:15, com ênfase para 07:06. Aviso o motorista: "Vou voltar/Não volto hoje". Entro no prédio e me encaminho para o banheiro. Usava o do térreo até um mês atrás mas, só para mudar a rotina, comecei a frequentar os banheiros do 1º andar. A luz se acende e eu me dirijo ao banheiro preferencial para deficientes. Ali eu posso trancar a porta e não me incomodar com quem chega. Escovo os dentes, passo desodorante e, por vezes, o perfume.
Desço. Converso com dois de meus melhores amigos ou com alguns colegas. Às vezes vamos até a cantina e compramos um café. Às vezes eu faço isso sozinho. Quando tenho aula, entro na sala e me acomodo em uma carteira da última fileira do canto direito, preferencialmente. Frequentemente abro o laptop, abro o Twitter, Facebook e Gmail, nessa ordem (quando a internet deixa). Twittava até um mês atrás, mas por querer evitar alguns tweets (que talvez podem ser daquela(s) pessoa(s) com quem sonhei), deixei de usar assiduamente as redes sociais. Um ou dois tweets por dia, e fim. Às vezes abro o caderno e faço algumas anotações, mas pouca coisa. Decidi ser mais estudioso e anotar mais, quinze dias atrás. Estou surpreso comigo mesmo: estou fazendo isso. Quando não tenho aula, vou para o escritório realizar meus trabalhos ou procuro uma sala vazia para ler meu atual livro. Preferencialmente, sento em uma cadeira estofada. Também tenho minhas salas preferenciais.
No intervalo, mais conversas com dois de meus melhores amigos. Vamos até a cantina, compramos um salgado ou um pão de queijo (preferencialmente o pão de queijo, para eles). Eu peço catchup. Sentamo-nos em uma das mesas da cantina. Por vezes caminhamos pelo campus.
Na volta, quando tenho aula, o processo inicial se repete. Quando não tenho aula, o processo inicial também se repete mas, ultimamente, apenas vou para o escritório.
À tarde e à noite eu não tenho mais rotina. Faço coisas diferentes, vou a lugares diferentes, chego (ou não chego) em casa em horários diferentes. A minha única rotina era abrir meu MSN. Não abro mais. Também não recebo mais mensagens no celular, nem as mando. Não tenho mais alguém pra brigar comigo, alguém com quem rir, discordar ou me sentir bem.
Porém, pensando melhor, tenho uma única rotina, sim. Estabeleci uma rotina, à tarde e à noite. Uma rotina que não tem horário nem local programado, mas que é diária. É a rotina de pensar se foi importante ou não. É pensar se foi verdadeiro ou não. Pensar se foi ridículo ou não. Se foi errado ou não. Se foi. Foi.
Essas palavras não soam como desilusão. Soam como incerteza. Incerteza de tudo o que pareceu ser ou de tudo que realmente foi. O meu 'não sei' nunca esteve tão forte.
Esteve. Foi. Palavras do passado, que se referem ao passado.
Passado.
Não é mais.
Não mais.
Não é.
Foi.
sinto-me encantada pela sensibilidade com a qual você escreve sobre o cotidiano, tenho certeza de que produziria um ótimo livro.
ResponderExcluirO passado costuma habitar os sonhos, os seus, os meus. O passado não quer dizer que não quer estar no futuro, ou no presente. Quer dizer que é passado enquanto sente-se passado, podendo sentir futuro. Sinta futuro, mesmo que só as vezes, mesmo que de vez em quando, mesmo que querendo de vez em sempre. A tal saudade mora no antes, no agora e no depois. "O quanto eu te falei, que isso vai mudar, motivo eu nunca dei"
ResponderExcluir